Caso Epstein: Um novo rosto para Ghislaine Maxwell


Mathieu Polak / Sygma / Getty
Ghislaine Maxwell conheceu Jeffrey Epstein durante um chá em seu escritório na Madison Avenue. Em gravações divulgadas pelo Departamento de Justiça em agosto de 2025, ela diz se lembrar da gravata dele. "Estava manchada, parecia ketchup." Isso foi em 1991.
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Maxwell tinha acabado de se mudar de Londres para Nova York. "Um amigo me disse: 'Tenho alguém que você precisa conhecer. Você vai adorá-lo. Ele está procurando uma esposa.'" Assim começou um relacionamento, tanto pessoal quanto profissional, que duraria décadas. Sua história macabra foi recontada em inúmeras reportagens na mídia.
Inúmeros documentários se dedicaram à questão de quem é Ghislaine Maxwell. O caso já ultrapassou o arcabouço legal há muito tempo. Especulações e teorias da conspiração só alimentaram essa proliferação.
Rede de dependênciaO filme de Erica Gornall, "Quem é Ghislaine Maxwell?", de 2022, começa com uma criança de cinco anos decorando a árvore de Natal. Você assiste à cena de conto de fadas dessa menina, sabendo que anos depois, já adulta, ela conhecerá Jeffrey Epstein.
Ela levará uma vida na alta sociedade – e, ao longo dos anos, Epstein conquistará jovens mulheres, algumas delas menores de idade, das quais abusará. Às vezes, junto com ela. Ela tecerá uma teia de dependência e falsa intimidade da qual as vítimas dificilmente escaparão. Os dois serão expostos e indiciados. O fato de ela negar as acusações contra ela não ajuda em nada. Em dezembro de 2021, o tribunal condenou Maxwell a 20 anos de prisão por tráfico de pessoas e exploração sexual de menores.
O caso revelou as condições sob as quais Epstein conseguiu cometer seus delitos: um sistema de justiça que o libertou em 2008 com um "acordo favorável" — um acordo incomumente brando; uma sociedade que aceitou que ele estava cercado por garotas jovens demais; um grupo de ricos e importantes que preferiam ignorar a fazer perguntas que os preocupavam pessoalmente.
O documentário sobre Maxwell mostra como, como filha de um magnata da mídia, ela busca uma nova figura forte em sua vida após a morte inexplicável dele. O documentário retrata uma mulher com grande poder de sedução que não apenas apoiou o sistema Epstein, mas o manteve em funcionamento. Ela é acusada de ser cúmplice e coautora, apelidada de "facilitadora" pela mídia americana. Agora, um novo termo surgiu nas reportagens sobre a mulher de 63 anos: vítima.
Transferência para liberaçãoGreg Kelly, da Newsmax, falou de Maxwell como uma possível vítima de um clima #MeToo superaquecido. Seu irmão escreveu em um artigo para o tabloide britânico Daily Mail que ela havia sido cega ao lado do bilionário. Isso significava que ela não era uma perpetradora, mas sim inocentemente culpada, ou pelo menos não criminalmente responsável.
O ex-advogado de Epstein, Alan Dershowitz, disse à Newsmax em julho que ela estava cumprindo "a pena de Epstein" em vez da sentença dele. Ele foi encontrado enforcado em sua cela em 2019, antes do julgamento. Havia também teorias da conspiração em torno de seu suicídio. A sequência supostamente crucial de imagens de vigilância do Centro de Detenção Metropolitano estava desaparecida. O "minuto perdido" só veio à tona no início de setembro de 2025. Ele não mostra nada de anormal.
Essas reinterpretações do papel de Maxwell coincidem com novos eventos: no verão de 2025, após anos em Tallahassee, Flórida, Maxwell foi transferida para uma prisão no Texas, em Bryan — uma unidade de segurança mínima. Rotineira, segundo o Departamento de Justiça. Mas, desde então, a mídia tem especulado se este poderia ser o primeiro passo para sua iminente libertação.
Ministério Público dos EUA via Reuters
Maxwell já havia se encontrado duas vezes com Todd Blanche, ex-advogado de Trump e agora procurador-geral adjunto. As conversas aparentemente não tinham um propósito legal claro. Ela discutiu supostas manchas de ketchup em gravatas e amizades próximas na alta sociedade britânica, incluindo com o príncipe Andrew, acusado em uma ação civil de abusar sexualmente de uma das vítimas menores de idade de Epstein. Ela também mencionou encontros com Elon Musk no Oscar.
Epstein a fez acreditar que eles poderiam se casar. "Em meados da década de 1990, no máximo, eu sabia que não haveria casamento", diz ela. "Mas eu achava que poderíamos ter um filho; eu realmente queria isso." Ela sugere que sua dependência de Epstein arruinou sua própria vida — sem reconhecer quantas outras pessoas ela havia prejudicado. Por volta de 2005, Epstein e ela se separaram, mas o motivo exato não é claro. Ela se emancipou e, em 2012, fundou o Projeto TerraMar, uma ONG para salvar os oceanos. Mas, mesmo dez anos depois, Epstein supostamente pagou seus honorários advocatícios.
Ela reconhece que o comportamento de Epstein foi "inapropriado", mas afirma que nunca soube do abuso. Nesse contexto, Maxwell também afirmou que "nunca viu Donald Trump em nenhuma situação inapropriada". Ele sempre se comportou como um "cavalheiro" com ela.
Nada menos que um «parceiro no crime»A entrevista não foi declarada uma audiência oficial. Maxwell obteve apenas imunidade limitada em sua conversa com Blanche, não imunidade total, como ela havia exigido em troca de um pedido de audiência que ainda estava pendente.
Maxwell quer que seu próprio papel seja compreendido como o de uma vítima. Até hoje, ela nega todas as acusações e se apresenta como vítima. O cálculo é transparente: ela está tentando obter apoio político usando a simpatia de Trump. Apresentar-se como vítima torna-se, portanto, o recurso central de sua tentativa de reabilitação.
Após a divulgação da transcrição da conversa de Maxwell com Blanche, a família de uma das vítimas, a já falecida Virginia Giuffre, se manifestou. Eles criticaram o Departamento de Justiça por dar a Maxwell uma "plataforma para reescrever a história". As mulheres que entraram com a ação judicial contra ela insistem que Ghislaine Maxwell era, em todos os sentidos, "parceira no crime" de Epstein.
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