Cor de cocô de ganso metálico

Depois de muitos anos, neste verão, carros coloridos chegaram para quebrar a monotonia de cinza, branco, preto e metálico que dominava as ruas e os estacionamentos de praia. Ao longo de várias temporadas, acumularam-se vários tons de vermelho, mais ou menos sangue e metálico, azul, quase todo metálico, alguns belos azuis-celestes (sempre em carros com placas estrangeiras), alguns amarelos, pouquíssimos verdes e vários tons de bege, que vão do laranja ao cobre.

Tenho uma teoria de que cores sem graça nos carros são um sintoma da tristeza do hipercapitalismo e da tendência crescente que todos temos de nos levarmos a sério demais. O mais impressionante é que, enquanto viajamos pelo mundo nesses carros ministeriais, passamos o verão vestidos com roupas de lycra que nos fazem parecer palhaços. Ei! Eu sempre fui a favor de lycra berrante. O que eu não entendo é como você consegue dirigir com essa lycra em um carro preto metálico.

O verão trouxe de volta um retorno tão esperado: a cor de esterco de ganso. Graças a Deus! Era uma cor clássica para carros nos anos 70: uma cor como mostarda aguada que se destacava numa época em que predominavam cores suaves e pastéis. Lembro-me que o taxista de Arbúcies, Fermín, tinha um Renault 12 da cor de um azulejo de cozinha muito bonito. E ao lado dele, o MG do meu tio, da cor de esterco de ganso, se destacava. Os Renault 6 que circulavam pela casa eram verdes e azuis sem detalhes metálicos: como as cores de uma blusa para usar em um casamento.

Sinceramente, pensei que encontraria mais literatura sobre a cor do esterco de ganso. Mas não há muita. Em Papitu , aparece uma vez, num repertório de apelidos para Santa Coloma de Farners: "Saí daqui, esterco de ganso!" E em El Be Negre , numa paródia ao estilo de Josep Pla: "A minha Torroella sempre me agradou. Os ovos têm a cor de esterco de ganso trabalhado." Que bom. O esterco de ganso é algo bastante fluido, porque o sistema digestivo dos gansos é tão simples que não permite elaborações gástricas extensas. Um esterco de ganso processado é um extraordinário oxímoro planiano.

O verão trouxe de volta algo muito esperado: a cor de esterco de ganso. Graças a Deus!

A cor de esterco de ganso faz parte da tradição de humor escatológico do país, que, diante das paisagens e objetos mais idealizados — os pomares de Torroella de Montgrí ou um carro MG fabricado em Pamplona sob licença da Leyland —, esguicha cocô líquido. Meu tio não gostou nem um pouco quando dissemos que seu adorado carro era da cor de esterco de ganso, e ele nos proibiu de fazer isso.

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Encontrei um Peugeot 408 cor de merda estacionado ao meio-dia em uma área residencial perto da praia. Tiro uma foto da carroceria com o Google Lens para ver o que diz, e ele me dá três opções de nomes: Amarelo Cádmio, Dourado Girassol e Amarelo Pôr do Sol. Viva a escatologia catalã, francamente.