Aretha Sadick destaca arte como forma de resistência: 'Criações mais potentes'

Aretha Sadick (37) segue em cartaz com o espetáculo Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso em São Paulo até o dia 29 de junho. Vivendo dois arquétipos distintos, a atriz mergulha em uma estrutura complexa que reflete sobre feminilidades e a negritude. Em entrevista à CARAS Brasil, ela destaca a arte como forma de resistência e debates: "Criações mais potentes", avalia.
Teatro e poesia como ponto de encontroDepois de se destacar em produções audiovisuais como Cidade de Deus - A Luta Não Para, Vítimas do Dia, Reencarne e Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente, Aretha se volta novamente ao palco, seu território de origem. Em Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso, espetáculo dirigido por Nelson Baskerville (63), ela vê a chance de dialogar diretamente com a cidade e seus afetos.
"O espetáculo é um oceano de poesia sobre a capital paulista. Imagino que as pessoas vão se identificar demais na relação entre realidade e vida. As águas vão rolar!", comenta.
Para dar conta de uma estrutura dramatúrgica complexa, que envolve a atuação em diversos papéis, Aretha contou com a preparação corporal de Marcelo Evelin (63). "Ele foi crucial pra revelar fisicamente as essências de tantos personagens. Afinal, todo ser humano é múltiplo, embora muitas vezes nos façam querer esquecer isso", avalia.
Protagonismo negroNo cinema, Aretha emocionou ao viver Cinara no longa Vítimas do Dia, que estreou em janeiro. Uma personagem que dialoga com o cotidiano das mulheres negras brasileiras — e, por isso mesmo, exigiu um mergulho pessoal profundo. "Minhas referências para a Cinara definitivamente foram as mulheres do meu cotidiano. Durante muitos anos na adolescência, eu acreditei que trabalhos como atendente seriam minha única possibilidade. O problema não é o trabalho, e sim, ser a única opção de alguns grupos sociais", reflete.
A liberdade cênica também marcou a experiência de filmagem: "A abordagem teatral permitiu uma atuação mais livre, especialmente em relação às expressões faciais. De alguma forma, isso nos lembra que não é preciso 'chorar bonito'".
Na cena compartilhada com Bete Mendes (76), Aretha destaca o cruzamento entre cinema e teatro. "Foi uma sobreposição potente. O teatro quando deseja retirar o supérfluo e focar somente nas emoções que interessam."
Contracenar com nomes como Amaury Lorenzo (40) e Jéssica Ellen (32) também foi marcante para a atriz, que se viu reafirmando o lugar conquistado no meio. "Reafirmei o meu lugar como uma estrela em ascensão. A disponibilidade do Amaury, de maneira sempre gentil, me chamou atenção. Já com a Jéssica, acompanhar seu retorno à cena após a maternidade foi muito bonito. Ela colocou sua fragilidade em cena com generosidade."
Entre resistência e reinvençãoAretha também vive uma fase intensa no streaming. Em Cidade de Deus - A Luta Não Para, ela retornou como Koral, personagem que ganhou mais autonomia na nova temporada. "Se na primeira fase ela realizava sonhos junto às amigas, agora ela começa a buscar os próprios. Parece que o amor vai fortalecer o coração valente da Koral", entrega.
Em Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente, sua participação pode ser breve, mas tem um peso simbólico grande: "Foi a oportunidade de registrar em tela artistas da noite que muito me inspiraram. Acredito que vai ser bem bonito!"
A pluralidade das produções fora dos moldes tradicionais da televisão também a entusiasma. "Essa abertura de flerte e mistura de referências engrandece todo mundo. A minha presença nessas obras também é uma forma de reconhecer e valorizar outras narrativas possíveis."
Arte como meio de lutaCom tantos projetos em curso e outros por vir, Aretha vê sua carreira num ponto de expansão e afirmação. "Tem sido um momento muito importante, ao mesmo tempo, bastante desafiador", admite.
Seja no palco ou nas telas, sua presença artística carrega um compromisso com o imaginário coletivo. "Eu desejo seguir criando como atriz, criando novos imaginários e poesia, que é o que posso entregar ao mundo". E conclui com uma certeza: "A arte é uma forma de resistência. E neste tempo, mais do que nunca, precisamos dessas criações potentes que nascem da urgência."
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