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Obrigada, Mãe e Pai

Obrigada, Mãe e Pai

Os meus irmãos são os meus melhores amigos. Pedro, Teresa, Joana (eu), Miana, João, Marta, Madalena, Inês e António. Um rapaz, três raparigas, um rapaz, três raparigas, um rapaz. Perfeito.

Cresci a pensar que uma família grande era a vocação dos meus Pais, como que uma extensão do seu amor, alegria, afeto, imaginação, solidariedade e uma enorme ternura e gratidão pela vida. E que teriam tantos filhos quanto lhes fosse possível, do ponto de vista de saúde e de organização.

Sim, era confuso às vezes. A minha mãe narra que, à mesa, por vezes, eu agarrava na minha cabeça, lamentando a confusão e o barulho. Sim – hoje mais do que nunca – é muitas vezes impossível ter uma conversa com um Carneiro por mais de dois minutos, sem que a atenção seja desviada para outro lado. Sim, numa mesa em que todos estão sentados, há vezes em que um já está a comer a fruta quando outros ainda pegam na colher de sopa. Sim, quando vemos um filme e largamos uma gargalhada em uníssono em momentos em que mais ninguém o faz, quem vem de fora tem a sensação de que somos uma espécie de clã que se ri das mesmas coisas sem se perceber bem porquê, que se olha com cumplicidade sem ter de explicar porquê, que fala da mesma maneira, que valoriza as mesmas coisas.

Mas também tenho a sensação de que quem olha de fora sente primeiro o amor, a harmonia e uma vontade constante de estarmos juntos. Quando estou aflita, o ar de todos sustém-se. Os meus irmãos dizem-me sempre que estou linda, que sou forte, que sou capaz, que tenho de confiar, mesmo quando me sinto fraca, incapaz e incompetente. Nas piores alturas da minha vida – principalmente antes de ter a sorte de, com o meu marido, criar a nossa família -, no fim de cada dia, continuei sempre a ter mais para agradecer do que para pedir.

Dizia à minha mãe que ainda tinha muita alegria dentro de mim. Essa alegria não vinha de mim, mas da pureza e incondicionalidade do amor que sentia na minha família, como a sensação de que o essencial, aquilo que é verdadeiramente mais importante na vida, se mantinha. Como se a minha família fosse a única coisa certa que teria toda a vida, uma certeza cimentada em milhões de pequenos momentos de atenção, ternura, carinho, presença e amor.

Volvidos 50 anos, tenho a bênção de crescer e envelhecer com os meus melhores amigos. Adultos, ainda nos temos uns aos outros, mais do que nunca.

Quando éramos todos pequenos, os mais velhos ajudavam e mandavam sem pudor nos mais novos, como que numa hierarquia. A diferença de idades de quinze anos do mais velho para o mais novo hoje é menor. Os meus irmãos mais novos são, tantas vezes, os que me ouvem, me sentem, ajudam e me ensinam a ser melhor mãe, tia, filha e irmã. Há 40 anos, os mais velhos eram os líderes. Hoje muitas vezes é ao contrário.

Há poucas coisas tão boas como quando me confundem com as minhas irmãs, não só porque as amo e admiro, mas porque são (muitas delas) mais novas e (todas) mais bonitas que eu. Há uns anos, a certa altura, acontecia tanto que deixei de corrigir quem me interpelava.

Ouvi uma vez o inspirador Fernando Castro a dizer qualquer coisa como: “um grande presente que podemos dar a um filho é um irmão. O melhor presente que lhe podemos dar é muitos irmãos.”

O meu coração aquece e os meus olhos enchem-se de lágrimas ao imaginar os meus pais, há mais de 50 anos, a escreverem uma lista com quinze nomes de menina e quinze nomes de menino.

No Dia dos Irmãos, a 31 de maio, só tenho a agradecer.

Obrigada, Mãe e Pai.

observador

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