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Tempo sem mundo

Tempo sem mundo

Os navios que zarparam para Gaza partiram para salvar um mundo em declínio. O mundo havia diminuído tanto que tantos navios poderiam salvá-lo? Alain Badiou escreveu em seu livro "Lógica dos Mundos" que vivíamos em um mundo em declínio. Estávamos em um período entre um mundo desgastado, deteriorado e exausto e um mundo ainda não calculável ou previsível. Para Badiou, a justiça era o que tornava o mundo visível. Ele enfatizou que estávamos vivenciando uma época sem mundo e, portanto, estávamos em um estado de inquietação estagnada, ou melhor, uma estagnação inquieta. Estávamos fixados em uma imagem estática e bruxuleante que criava a ilusão de movimento e mudança. Este era um estado consistente com as palavras de Adorno: "O lar acabou". Todos estavam vivenciando um exílio interno, embora nem sempre externo, neste mundo.

PESQUISA SEM FIM

O caminho para a reconstrução de um mundo decadente passava por quatro realidades principais: política, arte, ciência e amor. Segundo Badiou, verdades só poderiam ser geradas universalmente a partir dessas quatro fontes. Especialmente o amor. Como Badiou argumenta em seu ensaio "O Amor Deve Ser Reinventado", coescrito com Duane Rousselle, o amor também era um palco para a aventura de uma nova ideia. Este ensaio centrava-se no ditado de Rimbaud de que "o amor deve ser reinventado". Reinventar o amor significava também reinventar o pensamento. Para Badiou, se o amor estivesse presente na poesia, na música, nos romances e nos filmes — em suma, em todos os lugares — significava que abria um campo infinito de investigação para a humanidade futura. O amor emergiu como a experiência mais intensa e amplamente compartilhada capaz de revelar a humanidade. Ao mesmo tempo, carregava tantas diferenças e semelhanças que abrangia todas as civilizações e culturas, possuindo um poder que as transcendia.

CAIXÃO DIGITAL

Mas o amor era assustador para o ser humano racional de hoje, vivendo em uma temporalidade sem mundo. Pois, nessa época sem mundo, o egoísmo era uma busca inevitável. A vida contemporânea foi construída com base na preservação da duração e do conteúdo de nossa existência singular a todo custo. O aumento dos investimentos em saúde e beleza, a busca pela longevidade, uma humanidade adormecida em fantasias como se estivesse sonhando em caixões digitais... De um lado, aqueles presos nessa imagem, do outro, aqueles lutando até a morte por um pedaço de pão. Ser um bom cidadão-consumidor significava reduzir o mundo a um monte de lixo de conchas vazias de prazeres fugazes.

A DECLARAÇÃO DA MULTIDÃO

O que mudaria tudo isso seria, nas palavras de Mallarmé, "a autoproclamação da multidão". Somente por meio dela o passado e o futuro criariam o presente, e o mundo renasceria. Badiou chamou isso de torção do passado e do futuro. Ele tratou a declaração política como uma declaração de amor. Um amante declarando seu amor... Dizer verdadeiramente "eu te amo" não era declarar um fato, não era transmitir uma informação, mas reconhecer uma "paixão" expressa ao presente de forma inesperada e sem cálculo ou garantia de retorno. Não era econômico, era um puro gasto sem recompensa. Era uma experiência completamente subjetiva, assim como a própria vida.

Badiou dizia que a promessa de amor era a alegria única provocada pela descoberta de que somos capazes de infinitamente mais do que jamais imaginamos. A melancolia em nossas canções ou poemas era precisamente sobre a perda ou inibição dessa alegria única.

No romance "O Homem Errante", de Yusuf Atılgan, enquanto caminhava com Güler pelo túnel, o Homem Errante disse a si mesmo: "Um dia, eu lhe ensinarei que a única coisa que perdura no mundo é o amor". Perseverar é bom, criar também...

BirGün

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